No dia 20.10.2011 ocorreu o 4 º encontro com as adolescentes da Associação da Francesa. Demos continuidade ao planejado nos encontros anteriores e que trouxemos informações mais fundamentadas a respeito das principais dúvidas levantadas pelas meninas. A atividade começou com a exibição de dois curtas do Ministério da Saúde. O primeiro abordou questões a respeito do ficar, da primeira vez, da masturbação, dos métodos contraceptivos e da estrutura fisiológica dos órgãos sexuais femininos e masculinos, através de uma histórinha encenada por ex-atores da novela Malhação. No segundo curta selecionamos trechos que falavam sobre as DSTs e sua sintomatologia e também sobre o HIV/AIDS, explicando sua forma de transmissão, tratamento e os principais mitos relacionados ao contágio.
Depois da exibição dos filmes, as meninas fizeram algumas perguntas sobre o período menstrual, o período fértil, sobre as mudanças corporais e outras questões, que foram respondidas pelo grupo. Após este momento, foi proposto a construção de uma nova cena, porém as meninas estavam desaquecidas e demonstraram uma indisposição para atuar e criar. No entanto, isto foi resolvido quando de pé, elas próprias começaram a dar sugestões para a criação do cenário e do contexto em que se desenvolveria a história. Que seria: Uma festa do pijama na casa de uma delas. A história se passaria neste encontro de amigas que contariam umas as outras com quem tinha ficado, transado ou gostaria de transar e a partir de então tirariam dúvidas e trocavam informações como de fato um grupo de amigas.
Após a entrada de uma das adolescentes, que é mais animada e acaba contagiando o grupo, as meninas aqueceram de fato e o ensaio fluiu de uma forma que tivemos que gravar. A conversa das meninas surpreendeu todo grupo porque elas extrapolaram assuntos que a gente nem tinha debatido. Foi muito rico, pois o bate-papo contemplou tanto a linguagem delas, como também temas como aborto, perigo do uso de chás como método abortivo, uso de preservativos (inclusive o feminino, que nos comprometemos a trazer no próximo encontro), métodos contraceptivos, houve trocas de conselhos no sentido de alertar sobre as consequências de uma gravidez prematura e não planejada, tanto no sentindo de reforçar a importância do auto-cuidado e da valorização da mulher (quando elas diziam que tinham que levar a camisinha, que só transavam de camisinha e que se o cara não quisesse que e daria um fora nele).
A hora do momento oficial de gravação ainda foi melhor, os diálogos estavam de fato naturais e parecia realmente um encontro de amigas. O que comprova que esta forma de transmissão de conhecimento, partindo da leitura de mundo e da valorização do saber prévio que as meninas possuem, colocando-as como ativas no processo e não apenas receptoras de informações, é mais do que eficaz. O conhecimento parece ser construído de forma a fazer sentido para a realidade das mesmas, se adequando ao cotidiano das meninas e sendo fixado a partir da linguagem que elas dominam, a linguagem própria da sua faixa-etária, do seu grupo sócio-econômico e cultural.
Transformar termos científicos em termos coloquiais e com funcionalidade prática, a partir de exemplos ilustrativos que tragam a sua própria realidade nos mostra que o conhecimento fica e é perpassado em forma de conselhos. Porque passa a fazer sentido. As informações são significadas e não apenas absorvidas. Assistir uma roda real de conversa entre as meninas é muito satisfatório e renova todas as energias, pois é o maior sinal de que mesmo com falhas estamos no caminho certo.
Pode parecer utópico acreditar numa transformação geral da realidade do Alto do Cruzeiro, no que tange questões sobre sexualidade e os altos índices de gravidez prematura, aborto e DSTs, no entanto, é possível sim acreditar que estamos plantando sementes e produzindo futuras multiplicadoras. Esse é o resultado incomensurável de cada encontro com as adolescentes, esse resultado não é quantificável, é construido no dia-dia, no subjetivo, assim como as transformações mais estruturais que já ocorreram em nossa sociedade.
Camilla Veras
Psicóloga em Formação - UFBA
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