Hoje a visita ao posto estava preenchida de expectativas, pela primeira vez iríamos andar pela comunidade, conhecer um pouco das suas ruas, dinâmicas, cotidianos, espaços e famílias. Começar a entender o contexto onde vivem as pessoas que brevemente estaremos trabalhando a promoção da paz. Logo pudemos perceber do que se trata um tema complexo, de como os recortes ajudam pouco no momento que vemos vários fatores imbricados e que qualquer tentativa de decomposição para análise torna-se muitas vezes impossível. Na chegada encontramos os membros da equipe dois em reunião. Estavam discutindo casos muito complicados e delicados. De que forma podemos fazer denuncias contra o abuso de crianças? Discutiam um caso específico. Como foi apontado, não denunciar converte-se em negligencia, mas como acontece a intervenção após essa denuncia? Como não comprometer todo o trabalho que vem sendo feito pelo posto ou as visitas das agentes? Questões complexas que mais cedo ou mais tarde iremos nos defrontar, pois um dos nossos objetivos é a notificação da violência. Tivemos que sair da reunião, pois era hora de percorrer as ruas do Alto do Cruzeiro e perceber para que realidade iremos informar e promover saúde. Marijane - a agente comunitária - chegou e logo estávamos percorrendo a comunidade. Tal qual um flanêur víamos rostos dos mais variados e ruas nas mais diversas condições. Fomos para a área da equipe um e ao longo do caminho conversamos sobre as particularidades do local. Ela é moradora da área, o que facilita muito as relações da equipe com as famílias. Parecia conhecer a todos e com muito tato promovia a saúde por onde passava, como uma mãe cuidando da sua casa e da sua família. Talvez ela possa criar expectativas por sermos Psicólogos em formação, mas o que pude notar é que aprenderemos mais sobre psicologia com ela do que na academia. Conhecemos a associação criança e família. Um espaço para mães, jovens e crianças – sendo a maioria dessas mãe jovens - que necessitam de apoio. A associação é sustentada por um grupo francês e pelas doações que podem arrecadar. As anfitriãs nos receberam muito bem. Apresentaram o lugar e sua dinâmica. Um bom lugar para começar o nosso trabalho. Amplo, várias oficinas, muitos jovens. Da associação seguimos adiante e conhecemos algumas pessoas em suas casas. Fomos bem recebidos em todas. Na maioria havia crianças pequenas, muitas delas vítimas de alguma virose. Achei tudo muito tranqüilo, apesar das advertências da agente para as áreas com maior risco, como pontos de venda de drogas. Enfim retornamos ao posto. O horário nos avisava que devíamos voltar. O que vimos é pouco comparado a tudo que iremos ver. A vontade de agir é grande, mas sabemos que muita cautela devemos ter, pois a complexidade daquela realidade nos impõe um ritmo que dita um passo de cada vez. Acredito que perceber isso já é o primeiro passo.
Ronaldo Santiago
Psicólogo em Formação (UFBA)
Ronaldo Santiago
Psicólogo em Formação (UFBA)
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